Neste artigo, a que hoje sugerimos leitura, tem por objectivo identificar e caracterizar as práticas e as representações sociais sobre o que é “ser adulto” no Portugal actual.
Hoje em dia assiste-se a uma lacuna no campo de investigação sociológica do adulto, muito porque se considera ser um tema banal e que a adultez se define pela idade de “referência” e aproblemática, como refere a autora, citando Boutinet. Defende então, o desenvolvimento da sociologia do adulto, da mesma forma que é a da criança, adolescente e idoso, uma vez que poderá trazer luz sobre a transição da juventude para o adulto e depois para o idoso.
A partir dos anos 90 houve incremento do estudo da adultez, ema vez que se assistia à mudança do modelo tradicional do adulto (estabilidade em vários níveis sociais e pessoais) devido a pressões sociais como o prolongar os estudos, a melhoria das condições de saúde e vida, o adiamento da idade de procriação e revoluções no campo do lazer, consumo e acesso à informação.
Boutinet (2000) define então que já não se fala na idade adulto como a idade de “referência” e da norma. Com estas mudanças, principalmente o aumento da esperança de vida, a vida adulta ocupa 35 a 40 anos do total do percurso de um indivíduo – o novo adulto. Este novo adulto tem diversos caminhos a percorrer, decisões a tomar e experiências para viver. É uma idade de inacabamento, autonomia, liberdade, incerteza, risco e individualização.
Assiste-se assim a uma coexistência de duas perspectivas, a do adulto padrão (modelo tradicional) e a do adulto inacabado, na medida em que o adulto ainda é perspectivado numa representação de estabilidade mas ao mesmo tempo, de forma voluntário ou pressionado por questões sociais, se parece querer afastar dela, vendo-se a si próprio sem pontos de referência.
O adulto padrão define-se com um indivíduo equilibrado, estável, instalado na vida, que controla e projecta todas as dimensões da sua vida com certas etapas a percorrer e objectivos a cumprir. Será então, um adulto que atingiu a idade biológica, sexual e psicológica e que em termos de faixa etária estará no intervalo dos 25 aos 65 anos.
O adulto inacabado surge após a 2ª Guerra Mundial, tendo em conta todas as mudanças sócio-económicas; o impacto de dispositivos e novas tecnologias, o aumento do consumo e a individualização. Este adulto é entendido como em contínuo processo de construção e desenvolvimento, que tem de dominar e aperfeiçoar as suas qualidades de comunicação no meio social. Este adulto existe em duas perspectivas diferentes.
Até meados dos anos 70, existe a promoção de uma perspectiva positiva deste novo adulto, pois como é citado pela autora de Boutinet, “o estado inacabado do homem era visto como uma possibilidade de progredir e conservar as suas forma juvenis".
A partir dos anos 90, porém, o adulto está sujeito a uma visão pessimista, até por ele próprio. Ocorre o desenvolvimento de uma sociedade pós-industrial que traz consigo vulnerabilidades no trabalho e na família, o risco e até a marginalização.
No artigo «A inexistência da adultez», de Miranda Santos (1979), citada pela autora, defende-se que o adulto é então apenas um modelo referencial, um modelo teórico e como tal em termos reias nunca existiu. A autora refere o que é “ser adulto” segundo o ponto de vista de todos: uma criança tentará aproximar-se ou mesmo identificar-se; o adolescente atribui um fascínio a esse modelo ou, em alguns casos, uma certa rejeição; o adulto-homem dirá que ainda não atingiu esse estádio, enquanto a mulher-adulto dirá que o modelo lhe é inacessível; o idoso, por fim, lamentará nunca ter chegado a esse máximo de perfeição.
Fala-se então de morte do adulto por ser difícil delimitar em termos de anos, práticas ou comportamentos do resto das outras fases; por se ser em alguns casos adulto para certas coisas e para outras não. O indivíduo situa-se num intermédio de estados, sem saber a qual deles (jovem ou adulto) realmente pertence.
A autora refere ainda o fenómeno youth creep (rejuvenescimento) no qual a idade funcional dos indivíduos, não corresponde à sua idade cronológica, pois existe um investimento, quer do adulto, quer do idoso em comportar-se como se fossem mais jovem: o adulto adoptará por práticas e comportamentos pertencentes à juventude e o idoso sente-se mais sensibilizado para ter um estilo de vida mais saudável, continuando a manter-se activo . Assim sendo, de jovem passa-se para jovem adulto (25-34 anos), depois para adulto jovem (35-44 anos), idoso jovem (45-65 anos), idoso e finalmente idoso idoso, sem que se assista a uma fase devida do adulto ou apenas exista um tempo de cerca de 20 anos para o ser.
Nesta sociedade, apesar de se ter assistido a uma mudança, que o próprio adulto também ainda não entende, este deve procurar dominar a arte de comunicar sobre quem é, a sua experiência pessoal, intenções e projectos de vida. Deverá avaliar as suas competências e conhecimentos.
Sousa, F. C. (2007). O que é “ser adulto”: as práticas e representações sociais sobre o que é “ser aduto” na sociedade portuguesa. Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, 1(2), 56-69.
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